quinta-feira, 22 de abril de 2010

- história.


O que mais ouviram foi nossas vidas, prestando atenção no pedacinho que dizia até nossos beijos parecem beijos de quem nunca amou. De certa forma aquele beijo ainda ardia. Como se um pedaço da minha boca, durante todos aqueles anos tivesse ficado perdido (...)Como se eu fosse ao mesmo tempo diretor, ator, autor e platéia de um espetáculo que ainda não começara a acontecer. Como se não fosse um espetáculo, porque nada estava previsto e não houvera ensaio algum. Errei pela primeira vez quando me pediu a palavra amor, e eu neguei. Mentindo e blefando no jogo de não conceder poderes excessivos, quando o único jogo acertado seria não jogar: neguei e errei. É esquisito, mas sempre orientei minha vida nesse sentido — o de não ter laços, o da independência, de poder cair fora na hora que quisesse. Me pergunto sempre se você não teceu em volta de mim uma porção de coisas irreais -todo atento para não errar, errava cada vez mais. Não consigo ver mais que isso: essa é a lembrança. Sei perfeitamente quando uma lembrança começa a deixar de ser uma lembrança para se tornar uma imaginação. Assim como quem escreve uma história e procura ser interessante - seria bonito dizer, por exemplo, que eu sequei lentamente seus cabelos. Resta esta história que conto, você ainda está me ouvindo?

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